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O Lenhador – Uma fábula sobre buscas desenfreadas

Seja no trabalho, ou na vida, a busca desenfreada por algo nem sempre é uma boa ideia - aliás, quase nunca é. Esta fábula nasce no mundo corporativo, mas pode ser compreendida sob diversos vieses e em diversos contextos de nossa vida.

Em uma madeireira, contrataram um novo lenhador, seu trabalho era simples, com a posse de um machado, deveria derrubar árvores. De corpo forte, jovem e vigoroso, aquele novo empregado transbordava uma aura de energia, bem diferente dos outros ali, já velhos e de barba branca. O jovem lenhador estava obstinado a mostrar resultado de seu trabalho, ganhando respeito perante os mais velhos.

No primeiro dia o jovem deu seu melhor. Chegou no trabalho no horário certo e notou que os velhos também chegaram no horário, mas ao invés de trabalharem ficavam conversando, tomando café e zanzando no meio das árvores.

O jovem trabalhou duro e das 8h da manhã até as 14h da tarde cortou mais de 15 árvores enquanto que a antiga equipe cortou apenas 10 cada um – alguns até menos.

– ‘Claro’ – pensou ele. – ‘Enquanto eu estava dando duro aqui, eles, além de não começar o trabalho no horário, muitas vezes paravam para ficar sentados conversando… Que desperdício de tempo. Enquanto eles ficaram enrolando eu apresentei o melhor resultado.’

No segundo dia, o jovem resolveu ser ainda mais esperto e pontualmente às 8h da manhã deu sua primeira machadada. Porém, às 14h notou que havia cortado apenas 12 árvores. Seu rendimento caiu.

– ‘Não há problema’ – concluiu o jovem – ‘ainda estou pegando o jeito. Amanhã minha estratégia será melhor.’

Então, no terceiro dia resolveu começar a trabalhar ainda mais cedo. Às 6h da manhã estava dando sua primeira machadada. A equipe antiga não mudou seu roteiro, às 8h chegou, conversou, cortou árvores, sentou para conversar… Mas às 14h o jovem havia cortado apenas 10 árvores, mesmo fazendo duas horas extras.

– ‘Fiz apenas 10 hoje, mas em compensação, cortei as maiores e mais difíceis! Amanhã farei ainda melhor…’

E assim o fez no quarto dia. Começou às 6h da manhã e as 14h não parou, trabalhou exaustivamente até as 16h… No entanto, ao final do dia, mesmo fazendo quatro horas de trabalho a mais não conseguira um resultado melhor do que no dia anterior.

– ‘Mesmo aumentando meu horário de trabalho não consegui cortar tantas árvores quanto os velhos que ficam a maior parte do tempo sentados conversando? Por que?’

No quinto dia o jovem chegou novamente às 6h da manhã. Os velhos seguiram seu roteiro de chegar, conversar, cortar árvores, sentar. Por volta do meio dia o jovem notou que seu desempenho seria ainda pior naquele dia. Enquanto eles estavam parados conversando, não se aguentou… se aproximou do grupo de velhos e finalmente lhes perguntou.

– ‘Eu não entendo… sou jovem… vigoroso… tenho energia, mas não consigo fazer melhor do que vocês? Qual é o segredo?’

Os velhos riram, não de forma jocosa, mas com ternura, como se já esperassem por isso. Então um velho fez um gesto para o jovem se sentar. Após estarem todos acomodados o homem lhe estendeu uma pedra de amolar.

– ‘Você não não parou nenhuma vez para afiar o seu machado.'


Moral e ensinamentos

Essa história nos traz algumas reflexões. Talvez uma das mais importantes seja a ideia de que a busca desenfreada por um objetivo muitas vezes é contraproducente.

Lembro-me de uma vez que um jovem chegou até mim e contou que não era acomodado, fazia de tudo e ainda assim não era feliz. Perguntei-lhe qual era sua rotina, me respondeu que acordava as 5h da manhã, ia para a academia treinar, após ia direto para o trabalho e terminando o expediente para a faculdade, fazia todas suas tarefas e não faltava à nenhuma aula. Qual foi seu espanto quando lhe perguntei a que horas ele dormia. Dormir não estava em seu escopo, pois acreditava que era perda de tempo. Bem, para esse jovem, dormir era afiar seu machado!

Afiar o machado pode ter muitos significados, dependendo da nossa percepção sobre a vida. Nossos objetivos são alcançados com esforço sim, mas não devemos nos esquecer das coisas mais básicas, como o simples autocuidado. Nesse contexto a ansiedade, por exemplo, não é uma doença ou transtorno, mas sim um alerta de que algo em sua vida está em desequilíbrio e necessita de atenção.

Especificamente sobre o trabalho, cada hora extra gasta com o trabalho é também uma hora extra a menos que podemos nos dedicar às outras facetas da vida, como família, amigos, entretenimento e arte. Seu objetivo de vida não é pagar boletos e acumular bens. Família é importante, amigos são importantes, você é importante!

Saiba se dar tempo de qualidade!

E aí? Qual foi a última vez que afiou seu machado? Vamos afiá-lo juntos?

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