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Você não é bom em tudo... (sobre a tal Síndrome do Impostor)

Abro meu blog, me assusto quanto percebo a autossabotagem de deixá-lo desatualizado. Sei que procrastinação é comum, mas quando é comigo, reflito para entendê-la. Concluí que tomei uma atitude nada sábia, pois para evitar a frustração de produzir um texto ruim, acabei não escrevendo nada, o que reforçou a ideia de que não consigo escrever. Me senti um impostor.

Você também já se percebeu na autossabotagem porque acha que não é bom o suficiente? Quais acordos secretos você faz consigo mesmo para não se dedicar ao que realmente te traria alegria e potência?

Percebi que passava muito tempo nas telas. A cada texto interessante, vídeo envolvente ou post empolgante, me comparava e questionava minhas próprias habilidades. Sentia que não conseguia produzir um texto interessante e não adiantava tentar, pois logo as pessoas perceberiam a fraude que eu era.

Se identificou? Tenho certeza de que, em alguns momentos de sua vida, você também já se sentiu deslocado, insuficiente, inadequado. Frente à novos desafios (novo emprego, uma prova difícil, um novo projeto), vem aquela insegurança de que você não se preparou o suficiente.

A sensação de ser uma fraude é muito humana e este fenômeno tem nome específico na psicologia: Síndrome do Impostor.

 

Síndrome do Impostor

A Síndrome do Impostor é um fenômeno psicológico em que você, apesar de suas conquistas, duvida de sua própria competência e tem a sensação de que em algum momento será desmascarado como uma grande fraude. Isso se desdobra em muitas outras consequências.

Desacreditar em suas capacidades faz você ter medo e decidir não agir, mas os resultados desta evitação acabam confirmando seus temores.

Se você duvidar de sua capacidade de aprendizado, não vai estudar com afinco e seu desempenho acadêmico ficará comprometido. Se você desacreditar em suas habilidades profissionais, evitará responsabilidades no trabalho, o que afasta novas oportunidades. Se não confiar em suas qualidades pessoais, poderá afastar chances de relacionamentos e conexões sociais, o que reforça a solidão.

Estas profecias autorrealizadoras reforçam suas inseguranças, causam profunda tristeza e comprometem relações sociais (afinal, quem gosta de estar perto de pessoas tristes?).

Uma estratégia inconsciente para esconder suas inseguranças é adotar uma máscara social, seja de ironia, sarcasmo, humor inadequado, acidez, agressividade (ou uma mistura disso tudo). Estas máscaras escondem suas falhas, te mantém em uma zona de segurança e minimamente funcional, porém, dificultam conexões sociais profundas. Você deseja ter pessoas próximas, mas não tão próximas a ponto de expor suas falhas e inseguranças.

Estar constantemente vigilante com a imagem que outros tem de você distorcem os filtros e faz com que elogios e reconhecimentos sejam vistos como falsidade, críticas, mentiras e julgamentos. Isto faz o jogo de distanciamento e aproximação social ser extremamente desgastante, o que pode facilmente evoluir para transtornos ansiosos e depressivos.

 

Você não precisa ser bom em tudo

Não quero que você pense que vou cair no clichê de dizer para acreditar em si mesmo. O pensamento positivo até tem seu lugar, mas não aqui. É mais útil te trazer um pensamento mais realista:

Pessoas verdadeiramente confiantes sabem que não são perfeitas e não hesitam em admitir isso.

Ao nos sentimos inseguros, empregamos muito esforço nos concentrando em nossas imperfeições. Mentimos que sabemos fazer algo para não passar por tolos; agimos secretamente utilizando todos os recursos ao nosso alcance para que ninguém saiba de nossas deficiências; miramos no perfeccionismo e acertamos na procrastinação. Isso reforça nossas inseguranças.

Porém, se aceitarmos que podemos ser imperfeitos e que podemos ser socialmente aceitos dessa forma, não precisamos mais de subterfúgios.

O que você faria se repentinamente tivesse mais tempo, energia e recursos psicológicos para investir naquilo que te traria alegria e potência de vida? Isso, muito provavelmente, diminuiria a insegurança e sobraria motivação para entender melhor suas reais limitações, para poder investir em novas habilidades e transformá-las em qualidades.

 

A palavra-chave é aceitação

Tive uma amiga na qual admirava bastante sua capacidade de aceitação. Ao mesmo tempo que ela assumia não ser boa em exatas, se inscreveu em um curso de engenharia para se obrigar a trabalhar esta deficiência. Concordo que foi um pouco radical, mas atualmente ela é uma engenheira bem-sucedida, pois aceitar suas imperfeições abriu espaço para trabalhar suas habilidades deficitárias.

No fim das contas, ninguém sabe tudo. É impossível ser excelente em todas as áreas. Sempre haverá alguém melhor em algum aspecto assim como alguém você pode ser melhor em algo do que os outros.

Talvez você não seja tão bom dançando como aquele seu primo, mas esse mesmo exímio dançarino pode precisar de você para usar um novo app no celular. Cada um tem suas próprias habilidades e justamente por isso dependemos tanto uns dos outros.

Se conhecer melhor significa reconhecer suas limitações. Autoconhecimento e aceitação permitem abrir possibilidades para aprendizados mais profundos, reduzindo a sensação de ser um impostor prestes a ser desmascarado.

E, claro, você não está só. Se acredita que precisa de ajuda para vencer a Síndrome do Impostor, considere buscar ajuda da terapia. Contar com um especialista em comportamento humano junto com sua experiência de vida, pode mudar sua visão de si mesmo e melhorar sua autoconfiança.

Incrivelmente, a sensação de aprender um pouco a cada dia desafia a ideia de incompetência, e isso nos traz mais alegria, mais potência e, de quebra, nos tornamos pessoas naturalmente mais interessantes para aqueles que estão ao nosso redor... mesmo sabendo que ninguém é perfeito.

1 Comment


Márcia Maria da Graça Costa
Márcia Maria da Graça Costa
Mar 05

Adorei, muito lúcido e transparente.

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